Não é recente nem a primeira vez que cientistas, hidrólogos e ambientalistas alertam o mundo para os impactos das mudanças climáticas e como essas transformações afetam a vida no planeta. Reportagens do The New York Times e do jornal O Estado de S.Paulo trouxeram, ontem, nova advertência: “Metade dos reservatórios de água no mundo está secando”.
Entre 1.700 aquíferos em mais de 40 países investigados, os cientistas constataram que os níveis de água subterrânea caíram em quase metade deles desde 2000, e só cerca de 7% registraram aumento dos níveis nesses últimos 23 anos. Os alertas são preocupantes e não deveriam ser ignorados pelas autoridades e sociedade brasileiras.
O professor Scott Jasechko, associado da Brend School of Environmental Science and Management da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, dos Estados Unidos, e principal autor do estudo, avisa que “o declínio das águas subterrâneas tem consequências. Essas consequências podem incluir o esvaziamento de riachos, afundamento de terras, a contaminação de aquíferos costeiros pela água do mar e a secagem de poços”. Essas alterações não excluem a América Latina.
O Brasil não só abriga a maior floresta tropical do mundo, situada na Amazônia Legal, como também os dois maiores aquíferos. O primeiro, situado na Região Norte – Alter do Chão –, com capacidade de 162.520km³, segundo estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Pará. Conforme os pesquisadores, ele poderia oferecer água à população mundial por 250 anos. O segundo é o aquífero Guarani, no Centro-Oeste, que se estende pelo Sul e Sudeste do país e abrange parte da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. Com 39 mil km³, chegou a ser considerado o maior aquífero do planeta.
Mas essa riqueza brasileira corre sério risco, devido ao desmatamento desenfreado tanto na Amazônia Legal quanto no Cerrado, biomas que têm os maiores aquíferos e o mais elevado número de nascentes das principais bacias hidrográficas. Os índices de redução das agressões ambientais não deixam de ser positivos.
Conferência do Clima da ONU (COP 28), ocorrida em Dubai, o Ministério do Meio Ambiente divulgou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado). A meta é zerar as perdas de vegetação até 2030, ano-chave para conter o aquecimento do planeta, como previsto no Acordo de Paris.
Estancar as agressões ao meio ambiente é uma questão de vida ou morte. Os eventos climáticos extremos, resultantes do aquecimento global, têm dado este recado ao mundo há vários anos. No início deste mês, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) divulgou o estudo Impacto das Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos do Brasil. O aviso aponta para um cenário preocupante, semelhante ao desenhado pelos pesquisadores estrangeiros. De acordo com o estudo da ANA, mantido o atual comportamento de todos os setores da sociedade frente às mudanças climáticas, as regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste do Brasil poderão ter uma perda de 40% da água disponível para uso em 2040.
Embora o estudo preveja que na Região Sul a tendência seja de um aumento, em média, de 5% da oferta de recurso hídrico. Isso não será constante. Haverá momentos em que a maior quantidade de água decorrerá dos eventos climáticos extremos, provocando inundações e cheias, o que, na realidade, não seria uma conjuntura positiva. No Sudeste, os modelos climáticos, usados no estudo, não são tão claros na projeção do futuro para a região. Mas, ainda assim, prepondera cenários mais secos.
A convergência das pesquisas e estudos, de especialistas de fora e de dentro do Brasil, impõe à sociedade uma mudança de hábitos, uma educação ambiental mais rigorosa. Essa demanda exige igual comprometimento do setor produtivo, seja no campo, seja nas cidades, a fim de acelerar a transição energética e a migração para uma economia verde, oferecer ao mundo uma expressiva contribuição para conter o aquecimento global e garantir o que mais de precioso há no mundo: a vida.
Fonte: Estado de Minas
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