O agronegócio brasileiro enfrenta um momento difícil. O número de produtores rurais com dívidas atrasadas nunca foi tão alto, e a tendência é que a inadimplência continue crescendo nos próximos meses. Isso porque o Banco Central mudou as regras para renegociação de dívidas, o que agora dificulta bastante a vida de quem precisa mais prazo para pagar seus financiamentos.
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Antes, quando o produtor rural enfrentava problemas como seca, geada, dificuldade para vender a produção ou queda nos preços, era possível renegociar a dívida com o banco de forma mais simples. Agora, os bancos precisam fazer uma análise mais rígida. Só será possível conseguir uma renegociação se o banco tiver certeza de que o produtor ainda tem condições de pagar a dívida no futuro. Para isso, será levado em conta tudo que o produtor tem — como terras, maquinários, dinheiro de outras atividades e até bens que possam ser vendidos. As instituições também vão analisar outras dívidas do produtor, como trocas feitas com empresas, CPRs, compromissos com cooperativas e revendas de insumos.
Essa mudança nas regras aumentou o número de produtores que não conseguem mais renegociar, o que acaba levando ao atraso dos pagamentos. Só no Banco do Brasil, o principal financiador do setor rural no país, R$ 12,73 bilhões deixaram de ser pagos por produtores. É o maior valor de inadimplência da história da instituição. Outras instituições, como Santander, Itaú e Bradesco, também já sinalizaram que a inadimplência no campo está crescendo, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sul, com destaque para produtores de soja, milho e gado.
Endividamento cresceu com investimentos e cenário piorou
Essa crise no agro é resultado de uma combinação de fatores. Até o fim de 2023, o setor vivia um período de crescimento, com alta nos preços, boa demanda e custo de produção controlado. Muitos produtores aproveitaram para investir: compraram mais terras, trocaram máquinas e buscaram crédito, inclusive no mercado financeiro. O problema é que, de lá para cá, os juros subiram, os preços das commodities caíram, os custos aumentaram e o governo dos Estados Unidos ainda aplicou tarifas extras sobre produtos brasileiros, o que atrapalhou as exportações.
Com menos renda e juros mais altos, muitos produtores não conseguem mais pagar suas parcelas. Especialistas alertam que é hora de reduzir dívidas, vender o que for possível e organizar as contas, porque o custo do dinheiro está alto e o setor não está conseguindo ter lucro suficiente para cobrir essas despesas. Os grandes bancos dizem que ainda têm segurança nas garantias dadas pelos produtores e esperam uma recuperação futura do setor, mas admitem que os próximos meses serão difíceis. Para completar, o governo federal tem poucos recursos disponíveis neste momento para socorrer os mais endividados, o que torna a situação ainda mais delicada para quem está no campo.
