Na manhã desta terça-feira (20), moradores de Carmo do Rio Claro foram surpreendidos por avistamentos de caramujos, aparentemente africanos, em vários pontos da cidade. Relatos indicam que os caramujos foram observados nas proximidades do antigo posto telefônico Telemar, na rua Camilo Aschar, ao lado do ambulatório municipal. Essa descoberta gerou preocupação entre os munícipes, que compartilharam suas inquietações nas redes sociais.
Além da rua Camilo Aschar, foram relatados avistamentos próximos à Escola Geraldo Vilela, na avenida Dr. Luís Introcásio Filho, no bairro Jardim América, na rua Padre Penteado, no bairro Santo Antônio, na rua João Homero do Nascimento, no bairro Bela Vista II, próximo à Chácara do Breno e próximo à ponte do Honduras.
A disseminação desses caramujos por diferentes bairros da cidade levanta preocupações sobre os potenciais impactos ambientais, econômicos e de saúde pública.
Dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) destacam as espécies invasoras como uma das maiores ameaças à biodiversidade global, sendo o caramujo africano um exemplo. Introduzido ilegalmente no Brasil na década de 80 como substituto do escargot, esse molusco pode causar danos significativos à natureza, economia e saúde humana.
O caramujo africano está presente em ambientes urbanos, mas também em ambientes rurais. Quais os prejuízos neste contexto?
Nos ambientes urbanos as populações desses moluscos são muito densas, invadem e destroem hortas e jardins. Além disso, como essas populações são formadas por animais de grande porte [10cm, em média], causam muitos transtornos às comunidades das áreas afetadas. Perdas econômicas têm sido observadas, sobretudo em áreas de produção agrícola em pequena escala onde o caramujo africano pode ser considerado uma praga agrícola. Banana, brócolis, batata-doce, abóbora, tomate e alface são alguns dos itens mais atingidos.
Quais os verdadeiros riscos oferecidos pelo caramujo africano?
Existem duas zoonoses que podem ser transmitidas pelo caramujo africano. Uma delas é chamada de meningite eosinofílica, causada por um verme [Angiostrongylus cantonensis], que passa pelo sistema nervoso central, antes de se alojar nos pulmões. O ciclo da doença envolve moluscos e roedores. O homem pode entrar acidentalmente neste ciclo. No Brasil, não há registro de nenhum caso desta doença, que já foi verificada em ilhas do Pacífico, no sudeste asiático, Austrália e Estados Unidos. A segunda zoonose é a angiostrongilíase abdominal, com casos já registrados no Brasil, mas não transmitidos pelo caramujo africano. A angiostrangilíase abdominal [causada pelo parasito Angiostrongylus costaricensis] muitas vezes é assintomática, mas em alguns casos pode levar ao óbito, por perfuração intestinal e peritonite. Em testes realizados em laboratório, Achatinafulicanão se revelou um bom hospedeiro, sendo portanto considerado um hospedeiro potencial para o parasita, causador da angiostrongilíase abdominal – mas, friso, trata-se de um hospedeiro potencial.
Qual o risco dos caramujos africanos passarem a transmitir estas doenças?
No atual estado do conhecimento, podemos afirmar que o risco do caramujo africano transmitir estas duas parasitoses é muito pequeno. Mesmo assim, é preciso todo o cuidado ao manusear os moluscos encontrados livres no ambiente, que em hipótese nenhuma devem ser ingeridos. Além disso, deve-se lavar bem as hortaliças e deixá-las de molho em uma solução de hipoclorito de sódio a 1,5% [1 colher de sopa de água sanitária diluída em um 1 litro de água filtrada] por cerca de 30 minutos, antes de serem consumidas.
Quais cuidados a população deve tomar?
A principal providência a ser tomada é o controle através da catação. O uso de pesticidas não é recomendado em função da alta toxicidade dessas substâncias. A melhor opção é a catação manual com as mãos protegidas com luvas ou sacos plásticos. Este procedimento pode ser realizado nas primeiras horas da manhã ou à noitinha, horários em que os caramujos estão mais ativos e é possível coletar a maior quantidade de exemplares. Durante o dia, eles se escondem para se proteger do sol.
Como eliminar os caramujos depois da catação?
O sal, que seria uma opção para eliminar os moluscos, não é recomendado porque seu uso em excesso prejudica o solo e plantio. O Plano de Ação para o Controle de Achatina fulicado IBAMA recomenda que após a catação os moluscos devem ser esmagados, cobertos com cal virgem e enterrados. Outras opções são jogar água fervente num recipiente para matar os caramujos recolhidos ou incinerar, desde que estes procedimentos sejam realizados com segurança. O material pode ser ensacado e descartado em lixo comum, mas é preciso quebrar as conchas para que elas não acumulem água e se transformem em focos de mosquitos, como o Aedes aegypti,vetor do vírus da dengue.
O caramujo africano costuma ser confundido com um molusco nativo brasileiro, o Megalobulimus sp, conhecido como caramujo-da-boca-rosada ou aruá-do-mato. Como é possível distinguir as duas espécies?
O Megalobulimus spé uma espécie da nossa fauna e se parece com o Achatina fulicapor seu tamanho. Porém, ele coloca apenas dois ovos em cada ciclo reprodutivo. Como o molusco nativo do Brasil se reproduz pouco, é importante poder distinguir a diferença entre os dois para que a espécie brasileira não seja prejudicada. A concha de Achatina fulicatem mais giros e é mais alongada. Já a concha do Megalobulimussp é mais bojuda, gorda, tem menos giros e sua abertura é espessa, não cortante.
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