Essas pedras, que não faziam parte do leito do rio, mas, o margeava, foram submersas por reservatório de aguas na década de 80, fazendo parte de um complexo de usinas hidrelétricas e com aproveitamento para transporte hidroviário por todas elas, traçado na década anterior. Também, na década de 80, para dar mais intercâmbio na geração de energia e navegabilidade na hidrovia Tietê/Paraná, foi concretizado o canal Pereira Barreto.
Uma pausa na história: Enquanto isso tudo vai acontecendo, o lago de Furnas segue o fluxo, o lago de Peixoto se mantem por resolução devido a outras pedras e os lindeiros sem ter noções do que rola rio abaixo, vivem os seus cotidianos.
Mas, em nome do progresso, em 2010, uma ponte entre Passos/Glória, foi inaugurada, as balsas que transitavam por esse local, foram realocadas para outros municípios e algumas captações de águas tendo que se adaptar, pois, o prenúncio de mudanças drásticas ocorreriam.
Em 2014, vem a pior crise hídrica já registrada no estado de São Paulo, que impactou a navegabilidade da hidrovia, abastecimento de água para consumo humano por todo estado e com reflexos diretos no abastecimento no estado do Rio de Janeiro. Esses dois estados criaram inúmeras ações para tentar amenizar a falta d’água para a população, porém esbarraram na geração de energia que utiliza os mesmos rios. Reuniões, audiências, determinações, investimentos emergenciais para aliviar a crise hídrica. Várias autarquias governamentais, agências e operadores, elaborando soluções e promessas de investimentos nesses estados… Minas Gerais tendo a caixa d’água do Brasil, foi uma das soluções para atenuar problema, ok, vamos utilizar esse recurso, o sistema determina.
Quebra-se a resolução de Peixoto, que mantinha a represa em nível estável a décadas, rebaixando o reservatório em 13 metros, geração maior em Furnas, pois, estava com reservas suficientes no estoque para geração de energia no momento e a hidrovia parada devido às pedras no caminho. Mais reuniões, e se decide que para voltar a navegabilidade plena na hidrovia teria que estabelecer um nível mínimo no trecho entre as hidrelétricas de Ilha Solteira e Três Irmãos e esse nível mínimo se consegue com a geração maior nas hidrelétricas rios acima (na calha do rio Paranaíba e rio Grande). O ONS, em seus estudos técnicos, alertou que essa manobra impactaria nas reservas de estoque no sistema, porém, a ANA, por resolução, determinou que fosse aplicada essa manobra… IMPACTOS inevitáveis no lago de Furnas, Peixoto não foi mais o mesmo, níveis cada vez mais instáveis, desalentos e inseguranças por toda parte lindeiras aos lagos.
Investimentos pífios em outras fontes de energia para aliviar a carga de geração leonina, sem tratamento devido aos impactos gerados em toda cadeia produtiva interligada a essas águas.
2016, resolveram tirar as pedras, porém, o que foi tirado foram verbas milionárias e as pedras continuaram lá. Lógico: a resolução ANA, garantia a navegabilidade da hidrovia.
2017, devido ao impacto da quebra de resolução que mantinha Peixoto, criou-se uns ancoradouros em Cássia/Delfinópolis, para o translado nas balsas não sucumbir, um paliativo pirofórico, nada adiantou, pois as águas continuaram a descer, tanto em Furnas, quanto Peixoto.
2014, os peixoteiros tentaram, porém, em vão, chegar a uma luz no fim do túnel, judicialmente, mas, o sistema é implacável para aqueles que ousam tentar, novas falas para justificar o motivo de tanta perplexidade vistas na região.
Tudo isso impactando diretamente nos níveis dos reservatórios da região de Furnas e Peixoto, pois, o sistema energético é interligado e ações e decisões refletem em outras regiões, caso não for bem planejado e executado e investimentos que contemplem a demanda crescente ano a ano.
Pelas bandas das Minas Gerais, especificamente no lago de Furnas, agora conhecido como Mar de Minas.
1975, um Plano de Desenvolvimento de Furnas, detalhando sobre as perspectivas e possibilidades no lago Furnas, formado pelo rio Grande, rio Sapucaí e alimentados pelos seus respectivos afluentes… se perdeu em meio aos desinteresses e ou interesses diversos.
1988, fundação da ALAGO, criada pela consciência do potencial turístico e econômico do lago de Furnas, com vários projetos regionais, mas que também esbarra em inúmeras dificuldades de entendimentos regionais e percepção para o futuro integrado de toda região.
1995, uma semente lançada pela sociedade civil para o desenvolvimento regional no lago de Furnas, criação da associação Pró-Furnas… Perdeu-se pelos que permaneceram vivos ou pela força no confronto com o sistema?
2001, por outra crise, vozes em Furnas começaram a se mobilizar, porém em vão, pois o foco estava naquela que estava logo ali, Furnas. Começa a se falar numa cota mínima 762 para o lago de Furnas;
2012, um paliativo em forma de royalties, alterou a parcela de recebimento dos municípios na geração de energia das hidrelétricas (gera-se mais, recebe-se mais do lucro). Consequências inevitáveis… uns ganham e muitos penam com a instabilidade dos níveis.
2014, outras tentativas em Furnas e Peixoto, em vão, pois o sistema engole todos com suas narrativas mirabolantes para manter a geração de energia.
Os anos subsequentes seguem com incertezas, 2018, outra tentativa, através de audiência regional, novamente esbarra no sistema e na inobservância regional de que o problema é muito mais sério que se imagina.
2019, novamente os fundadores do Pró-Furnas, se unem para outra tentativa, agora com o nome Pró-Furnas 762 e se unem com os ativistas de Peixoto, que aderiram com o nome Pró-Peixoto 663. Ideias foram lançadas, incorporação da classe política regional para uma diretriz através de lei estadual para o desenvolvimento turístico e paisagístico e principalmente uma política de manutenção dos níveis mínimos de Furnas e Peixoto.
2020, outros grupos da sociedade civil sendo criados para o mesmo objetivo, manutenção das cotas mínimas e respeito ao uso múltiplo das águas estabelecido por lei, uma movimentação nunca antes vista pelas mobilizações criadas e várias entidades públicas se mobilizando para o mesmo fim… nas pesquisas encontra-se a interligação entre Ilha Solteira e Três Irmãos, chamado canal Pereira Barreto. Porém o sistema nega, veementemente, a relação no impacto dos níveis de Furnas e Peixoto. Audiências, reuniões, ofícios, projetos de lei, resoluções, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo e a sociedade civil organizada se interando de fato, com o que acontece além-mar, fora de suas visões, que o causador era somente um. Muitas coisas agora se sabe, muitos porquês sendo revelados…
2021, resoluções ANA, para o enchimento dos reservatórios e agora utilizando a expressão “com uso múltiplo das águas”. Um avanço e um marco divisor de águas, pois, através de toda essa movimentação na região, os olhos se voltaram para a real função de um rio, que não é somente “estoque” para gerar energia. Porém, nada definido sobre uma resolução que estabeleça as cotas mínimas para a garantia dos usos múltiplo das águas. CRISE HÍDRICA intitulada a maior crise hídrica dos últimos 91 anos – várias ações e penalizações para os consumidores no valor das tarifas de energia.
2022, por obra do arquiteto do universo, as águas despencaram em todos os rios pelos país a fora e enchendo praticamente todos os reservatórios, uma gestão operacional focada na preservação das reservas hídricas.
2023, gestão operacional em curso, porém, cabe salientar que: do mesmo modo que as águas vem, elas podem ser mais escassas. Portanto, de nada adiantará uma gestão pontual, se não houver monitoramento permanente, se não houver investimentos graduais em outras fontes, se não houver preservação de suas nascentes e principalmente se não houver integração regional e entendimento das ações e suas consequências.
“Somente atitudes mudam cenários”
L.O.B.
Créditos: Luiz Orlando Belmiro
Veja abaixo no vídeo:
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