Uma freira de 54 anos foi indiciada por homicídio doloso pela morte de 10 idosos moradores das Obras Assistenciais São Vicente de Paulo, conhecidas como Vila Vicentina, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, em decorrência de omissão.
Além dela – que respondia como responsável-técnica, outras 14 pessoas, dentre elas um médico, foram indiciadas por crimes como maus-tratos, cárcere privado e curandeirismo. O inquérito que investigava casos de tortura foi apresentado nesta quarta-feira (18) pela Polícia Civil.
As investigações começaram em abril do ano passado, quando funcionários denunciaram casos de maus-tratos aos 81 internos. Havia relatos de idosos amordaçados, além de banhos coletivos e gelados.
Na época, a instituição foi interditada pela Vigilância Sanitária. Dentre as irregularidades confirmadas pela perícia, também havia armazenamento inadequado de medicamentos, fraldas, superlotação de enfermaria e dependências sanitárias em desconformidade com a legislação.
Os maus-tratos e tortura foram constatados pela perícia médica. Exames apontaram, por exemplo, lesões nos idosos. Panos eram utilizados, indevidamente, para amarrá-los. Alguns eram mantidos em cárcere privado, trancados em quartos com grade e cadeados. Eles eram obrigados a fazer as necessidades básicas em baldes. Além disso, havia violência psicológica com ameaças de castigos.
Mesmo alertada por funcionários, a freira negava-se a acionar o serviço de urgência. “Com isso, os idosos ficavam sofrendo quatro, cinco, até mais de 10 dias até irem a óbito”, relata a delegada responsável pelas investigações, Adriene Lopes.
A responsável-técnica tem formação acadêmica de enfermagem. Ela atuava desde 2015 na Vila Vicentina, afastada do cargo no início das investigações. Freira, ela pertence à Congregação Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Antes, havia trabalhado em Alfenas, no Sul de Minas.
Além dela, também foram indiciados membros do Conselho Diretor, o ex-presidente da entidade, um advogado, cuidadores, enfermeiros e o médico que atua há 33 anos.
Os atendimentos, teoricamente, ocorriam duas vezes por semana, durante uma hora por dia. Entretanto, as investigações apontaram, segundo a delegada, que a responsável-técnica apenas levava informações a ele, sem, em muitos casos, a presença do idoso.
Ela detinha, inclusive, o receituário e também o carimbo médico, os quais utilizava para prescrição de medicamentos, mesmo sem competência técnica.
Ao ser ouvida, a freira negava envolvimento. Dizia, segundo a delegada, que no momento das mortes não estava presente, ou seja, na missa e, até, que não se recordava.
Prisões
Nenhum dos indiciados foi preso até o momento. “Não tinham razões jurídicas para que entrássemos com o pedido de prisão preventiva, já que não houve coação de testemunha, estavam à disposição da Polícia Civil todas às vezes que foram visitados, durante as investigações não houve nenhum embaraço por parte dos investigados”, argumenta o delegado regional.
O inquérito será remetido à Justiça para dar sequência ao processo criminal.